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Tepoztlán, Morelos, Mexico | 24 - 31 de julho de 2019
convocação
Formulário de seleção 2019
Data-limite para propostas: 15 de janeiro de 2019
Comemorando seu 15o aniversário, o Instituto Tepoztlán volta suas atenções para os corpos de água, onde os temas fluxos, guerras, enchentes, e rastros dirigem-se aos efeitos duradouros do colonialismo do Norte Atlântico. Esses efeitos incluem: a Passagem do Meio e os conflitos sobre espaços hemisféricos, migrações, fluxos nos commodities; o movimento dentro do Mar do Caribe e dos Ocêanos Atlânticos e Pacíficos, assim como e através deles; as lutas indígenas por recursos naturais e pelo meio ambiente. O Instituto convida os participantes a considerarem oceanos, mares, e rios, como lugares que conectam e problematizam lutas históricas sobre poder e império, assim como os significados e usos simbólicos da água nas vidas, consciências, resistências, e espiritualidades dos povos indígenas e afro-descendentes das Américas. Nosso tema inspira-se do trabalho de Christina Sharpe, intitulado In the Wake (2016), no qual a autora afirma que um wake (rastro) é “uma trilha deixada na superfície da água,” uma “perturbação” criada por movimento pela água, e portanto que viver no wake seria “viver na história e no presente do terror, desde a escravidão até o presente,” inclusive as pós-vidas da colonização das Américas e as iterações contemporâneas do capitalismo racializado.
Não entendemos a água como um elemento neutro que seja principalmente de interesse científico e ecológico. Ao contrário, a água é um meio ativo, um participante receptivo ou relutante, sobre o qual traços ou rastros históricos são constantemente escritos, muitas vezes para desaparecer rapidamente. Mas algo permanece (debaixo da água, nas costas ou nos territórios conectados por ela, nos diários de bordo e blogs e documentos arquivados longe das ondas) para revelar o que os corpos de água permitem, significam e contêm. Chuvas torrenciais, monções, enchentes, gotas e secas, nos dão a todxs um bom motivo para considerarmos a água não como algo inerte, mas como capaz, ativa, presente. As águas transbordam de deuses—que alguns chamariam de fábulas—de Tláloc a Oshun/Oxúm e Yemojá/Iemanjá, Egeu e Poseidon, Varuna, Wirnpa, Mami Data, Navahine, Sedna, e assim por diante. Como Derek Walcott cantou: para o azul profundo, o mar é história.
A chamada deste ano convida a reflexões sobre as várias conexões, formas, e tarefas dos corpos de água. Como os corpos de água foram essenciais na criação e expansão de impérios, da escravidão, da despossão; no comércio e no transporte de produtos e pessoas; e na ampliação do capitalismo racial? Como os corpos de água foram fontes de vida assim como de luta, cenas geradoras assim como túmulos para pessoas escravizadas e outrxs desaparecidxs. Convidamos os participantes a considerarem o status legal dos corpos de água ou dos corpos na água, em relação ao status da terra, em vários contextos e em várias escalas, juntamente com enquadramentos que formaram os altos e baixos da água entre diversos atores, como piratas, escravizados, comerciantes, migrantes, exiliados, e turistas.
Especialmente relevantes são as lutas históricas ou contemporâneas para defender a água como recurso natural e elemento da cultura humana frente à privatização e comodificação. Assim também no que se refere as análises dos sistemas políticos e epistemológicos que informam lutas indígenas, negras, camponesxs e de mulheres por suas comunidades. Encorajamos a reflexão sobre como interesses internacionais, nacionais, e locais se chocam e/ou coincidem no contexto destas lutas. Os ensaios podem também abordar as águas como processos químicos, ciclos, sistemas tributários, redes oceânicas, ou como natureza; como recursos para a agricultura, o gado, e a mineração; ou como fontes da literatura, das artes, e do pensamento crítico.
OUTROS POSSíveis temas incluem:
- Ocêanos, impérios, e os fluxos do capitalismo racial
- Tráfico de escravizados, raça e violência
- Ilhas, arquipélagos, “aquapélagos” (reais e imaginários)
- Conceitualizacões do “transoceânico”
- Bloqueios e fluxos
- Controle de passagens vias oceânicas
- Os ocêanos como fronteiras de lei e administração
- Movimentos sociais de mulheres, camponesxs, e povos indígenas (a construção de barragens e hidrelétricas, a poluição da água por meio da mineração extrativa e de outras indústrias capitalistas)
- Pirataria e comércio sancionado
- Migração, diaspora, e consciência no Pacífico negro e no Atlântico negro
- Rios como locais de conquista, povoação, e capitalismo racial fluvial
- As águas e os sistemas jurídicos
- Água e ecologia política
- Água e políticas em geral
- Água e espiritualidade
- Lutas e guerras por causa da água
- Programas de desenvolvimento nacional e colonial (multinacionais, mineração, cervejerias, etc., e hidrelétricas)
- Corpos de água corporativos ou dominados por grandes empresas (Coca-Cola, Nestlé, Monsanto; Three-Mile Island; the tsunami and Fukushima Daiichi)
- Água e saúde (diabete por causa do consumo de bebidas que não sejam água, exposição a contaminantes, irrigação com águas residuais)
- Racismo ambiental na distribuição de água
- Água e dinâmicas de gênero
- Respostas estéticas às crises e aos problemas relacionados com a agua (emissoras de rádio, arte, literatura, metáforas líquidas)
- Geografia e o seu impacto nas possibilidades de vida: desertos, pântanos, lagos, praias
- Epistemologias populares de água (espíritos, deuses, divindades, orixás)
- Água como ativa e viva
- Movimentos populares (sabedoria local da água; compreensão comunitária da água; “a palavra da água”)
- A forma da água; o sabor da água; a sensação, a luz, a margem da água
- O som da água, paisagens sónoras aquosas
- Literaturas líquidas; lagoas de poesia; fluxos estoriais